cheirando a guardado

o que fui guardando na memória do gostar ...

setembro 21, 2011

Lygia











-  Juízo, viu, filha! Deite cedo e coma que você está magra, eu telefono, disse a minha mãe ao me abençoar. O vinco entre as sobrancelhas diluído no sorriso: Guarda bem a chave da porta, não vá perder! 
Quando me vi só, esqueci completamente o encontro em Nápoles e fui procurar na estante Les Fleures du Mal, ah! Se na hora do chá eu recitasse Baudelaire? Pena que minha pronúncia não era brilhante, meu colega poeta podia rir, ele conhecia tão bem o francês. Paciência, se a edição era bilíngüe, eu poderia fazer citação na tradução, ficaria até menos pedante. Acomodei-me confortavelmente na poltrona diante do telefone, assim podia ouvir melhor quando ele ligasse para confirmar o encontro. Estendi as pernas até o almofadão e pensei como era maravilhoso ficar assim disponível, sonhando e esperando por alguma coisa que vai acontecer".

(Lygia Fagundes Telles, in "Invenção e Memória", 
Editora Rocco, Rio de Janeiro, 2000)




(Lygia Fagundes Telles, São Paulo, Brasil, 19 de abril de 1923)





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